Rateio de água em prédios antigos ainda causa dor de cabeça

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Individualização pode sair cara, enquanto cálculos fracionados não agradam a todos

Medidores de água individuais ainda não são realidade em muitos condomínios - Luciana Paschoal

Enquanto os prédios construídos no Rio a partir de 2011 são obrigados por lei a terem hidrômetros individuais, nos condomínios mais antigos o rateio da conta de água continua no rol dos assuntos mais delicados nas reuniões de moradores. Fazer a adaptação para a individualização dos medidores custa caro e chegar a uma fórmula de divisão que agrade a todos é praticamente impossível. Na busca por um meio termo, saem na frente os condomínios que conseguem disseminar a importância do uso racional da água.

No prédio de 20 unidades no Largo do Machado onde o advogado Márcio Ávila é síndico, um orçamento para a individualização foi feito na gestão anterior e descartado em função do custo. Enquanto a intervenção não é viável, optou-se por uma divisão que leva em consideração a metragem de cada apartamento.

Ele reconhece que a solução não é perfeita. Os proprietários dos apartamentos maiores, por exemplo, podem encontrar dificuldades para vender o imóvel. Da mesma forma, não é uma cobrança exatamente justa para quem passa meses fora de casa ou para os imóveis com um número reduzido de moradores. Porém, segundo Ávila, é a fórmula mais objetiva.

— Se fizéssemos pela quantidade de pessoas por unidade, haveria muitos atritos, já que isso muda o tempo todo e teríamos que fazer remanejamentos constantes — justifica ele.

CONTROLE INVASIVO

Para o advogado especialista em direito imobiliário André Luiz Junqueira, quando a instalação de medidores individuais não é possível, o rateio por número de residentes é o mais próximo do consumo real. No entanto, Junqueira pondera que o controle é difícil e até mesmo invasivo.

— Recomendo que a conta seja dividida em partes iguais e, no caso de unidades com piscina, com o acréscimo aproximado do volume da piscina (m³) multiplicado pelo número de vezes que é preenchida no mês — sugere ele.

Independentemente disso, como ele explica, a escolha de critérios é livre. Só precisa ser aprovada em assembleia com item específico e por dois terços de todo o condomínio.

— É fundamental que seja claro, objetivo e com base matemática. Não pode haver especulação, embora aproximações ou arredondamentos sejam aceitáveis — descreve Junqueira.

Como ele ressalva, se um morador não concordar com a divisão, deve levar seus argumentos à assembleia. E caso haja descumprimento de um dos requisitos de legalidade, como a ausência de quórum, de assembleia, de item de pauta ou de critério objetivo, qualquer condômino pode buscar uma revisão judicial.

No prédio onde vive a aposentada Regina Nizzo, no Recreio, não é usado nenhum tipo de proporção. Ela considera isso injusto, visto que há unidades com piscina e mais moradores em alguns apartamentos.

— Moro sozinha, assim como tem gente que passa o dia todo fora e quem usa o imóvel para veraneio. Mas também há unidades com seis moradores e todo mundo paga igual. Acho que deveria haver uma cotação — diz ela.

Além disso, Regina acha que a falta de detalhamento faz com que as pessoas deixem o consumo consciente de lado. Resultado: o prédio de dez unidades amarga uma conta de água mensal girando em torno de R$ 3 mil.

Para o gerente do núcleo de consultores da Apsa, Valnei Ribeiro, em casos como este, o melhor caminho é a conscientização. Vale fazer campanhas e até adotar uma medida simples que faz diferença.

— Quando o gasto com água vem discriminado no boleto do condomínio, as pessoas ficam mais sensíveis ao tema e economizam um pouco mais — cita ele.

Buscar alternativas como estas tem sido uma preocupação de Marcio Ávila em seu condomínio. Ele instalou bloqueador de ar no sistema de distribuição e reduziu o valor médio da conta de R$ 2.500 para R$ 2.100 por mês. Além disso, após o edifício receber uma cobrança de R$ 8 mil em função de vazamentos, ele estabeleceu uma norma junto aos vizinhos.

— Vamos fazer vistorias a cada seis meses. Senão, as economias do prédio vão todas para a Cedae — comenta ele.

INDIVIDUALIZAÇÃO DE MEDIDORES

Mesmo com a crise financeira, empresas especializadas na individualização de hidrômetros afirmam que a demanda pelo serviço continua alta no Rio. A Hidromet Individualização de Água, por exemplo, recebe três a quatro pedidos de orçamento por dia.

— Fazemos uma avaliação do caso, com vistoria técnica, e passamos para o setor de engenharia. Depois, fechamos o orçamento — detalha o gerente comercial, José Carlos Villa Real. — Em média, 20% a 30% dos pedidos terminam em contratos.

Diretor técnico da AJ Martani, o engenheiro civil João Martani conta que, desde 2006, a companhia já fez adaptações em cerca de 330 prédios antigos.

— As solicitações até caíram um pouco com a crise, mas muitos condomínios ainda enxergam as vantagens — diz ele.

O preço de uma obra dessas vai de R$ 1 mil a R$ 3 mil por unidade, conforme a complexidade, segundo Martani. Isso depende de fatores como número de banheiros por apartamento, do material usado nos encanamentos e dos tipos de descarga. A duração das intervenções também varia: de três a sete meses, embora não sejam necessários mais do que três dias de trabalho dentro de cada apartamento.

Já o impacto na conta de água, segundo Martani, aparece rápido. A redução pode ser de até 50% no valor pago.

— Fizemos intervenções num prédio na Glória em que o gasto total caiu de R$ 22 mil para R$ 10 mil — ilustra ele.

A empresa também oferece a opção de instalar medidores internos em cada apartamento, que possibilitam uma verificação remota pela própria companhia. Ao final de cada mês, os gastos de cada um são repassados para o condomínio, que faz a cobrança. Num prédio cuja obra convencional de hidrômetros externos sairia a R$ 1.600 por unidade, esta modalidade custaria R$ 1.250. Para a contabilização, a empresa também cobra R$ 4 por mês de cada apartamento.

Para os condomínios que não têm fundos para uma obra dessas, o jeito é se cercar de cuidados para barrar o desperdício. Como lembra a engenheira civil e diretora do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape) em São Paulo, Rejane Berezovsky, uma vistoria feita por profissionais habilitados pode revelar surpresas.

— Muita vezes, há um vazamento na entrada de água do prédio e ninguém percebe, porque a tubulação está enterrada. Da mesma forma, pode haver um “chorinho” não notado numa descarga de válvula, que gera uma perda violenta. Ter controle sobre esses detalhes é fundamental — finaliza ela.

Fonte: CondomínioSC

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