Diferença de idade vira estopim de brigas em condomínios

Comentários ( 0 )

A diferença de idade entre os moradores pode ser um motivo a mais de briga no condomínio, principalmente em prédios velhos, que reúnem moradores antigos e jovens recém-chegados.

No condomínio em que o síndico profissional Alexandro Penteado trabalha, na Bela Vista, região central de São Paulo, moradores mais velhos foram contra a implantação de uma portaria eletrônica. “São pessoas que não têm acesso à tecnologia. Eles ficaram preocupados de não saber usar”, afirma.

A ideia de não ter mais a presença do porteiro também assustou parte das pessoas. “Quem vai dar bom dia quando minha mãe vier visitar?”, perguntou uma das moradoras ao síndico.
Mesmo assim, a maioria dos condôminos, jovens, aprovou a mudança.

Também síndica profissional, Lana Maschk passa por uma disputa geracional em um prédio na Lapa, na zona oeste. Há um espaço vazio onde os moradores antigos, que estão no prédio há mais de 30 anos, querem fazer um jardim, enquanto os condôminos jovens desejam um novo parquinho para seus filhos.

“Há conflito de interesses pelas necessidades das famílias. As conversas são bastante acaloradas”, diz.

A mudança do espaço já foi para votação, mas não houve quórum para decidir.

Em condomínios com muitas crianças e adolescentes, barulho e desrespeito às regras costumam gerar reclamações frequentes. “Parece que as crianças querem testar sua paciência”, diz o aposentado Célio de Almeida, 61, morador e síndico de um prédio no Tatuapé, zona leste.

Ele tenta resolver os problemas na conversa, sem envolver os pais de cara. Foi o que fez quando viu um adolescente bebendo cerveja no salão de jogos. O garoto o enfrentou, e foi preciso ligar para seus pais e ameaçar chamar o conselho tutelar para resolver o problema.

Com o tempo, o adolescente entendeu o lado do síndico. “Hoje tomamos cerveja juntos.”

ROUPAS

O arquiteto Daniel Korn, 24, teve uma surpresa ao voltar para casa depois de um bloco de Carnaval neste ano. Na portaria do edifício Planalto, construção dos anos 1950, no centro de São Paulo, foi avisado que sua roupa não era adequada.

“Eu estava com três amigas, e falaram que não poderíamos circular daquele jeito, mas eu estava de shorts e camiseta. Nada extremamente curto, transparente e que justificasse a abordagem”, diz.

De acordo com a síndica, Águeda Hajar, 59, durante o carnaval “vários condôminos saíram de suas residências com maiô fio dental, sem camisa e com roupas transparentes, o que causou indignação de outros moradores”.

Segundo ela, ninguém foi impedido de entrar ou sair do prédio nem sofreu sanções. “Foram só alertados de que não deveriam transitar pelas áreas comuns.”

O colunista da Folha Marcio Rachkorsky já foi advogado do edifício, que atrai muitos jovens pela arquitetura, localização e fácil acesso. Para ele, a reação da administração foi exagerada.

O principal motivo de conflitos em prédios, afirma, é o comportamento dos moradores e a falta de habilidade em conviver com vizinhos, nem sempre ligada com a idade. “Mas, quando há briga, a diferença de gerações a torna mais grave”, diz. “Nos casos que acompanho, falta respeito por parte dos mais jovens e tolerância dos mais velhos.”

Fazer com que moradores de idades diferentes interajam é uma forma de evitar brigas por diferença de idade, segundo Angélica Arbex, gerente de marketing da Lello Condomínios.

“Quando você conhece seu vizinho, você se solidariza e adapta seus hábitos, é mais fácil não ter conflitos.”

Se nada adiantar, Ricardo Karpat, diretor da Gábor RH, empresa que forma síndicos, afirma que “é mais fácil mudar para um lugar que atenda seu perfil do que mudar o local em que você vive”.

GUERRA DE GERAÇÕES

Trajes sumários
No Carnaval deste ano, um morador de 24 anos do edifício Planalto, na região central de São Paulo, foi surpreendido quando voltava para casa com três amigas, depois de um bloco. O porteiro avisou que ele teria problemas com a síndica por causa das roupas que vestiam. Segundo o morador, ele usava shorts e camiseta, enquanto suas amigas estavam de saia. Pouco antes, outro morador foi advertido por sair do prédio de maiô e shorts, rumo a um bloco. Um comunicado foi colocado no elevador dizendo que eram proibidos trajes de banho e sumários (maiô, shorts, sem camisa) nos corredores do edifício.

Academia rejeitada
Em um prédio em Higienópolis, um grupo de moradores jovens se uniu para sugerir em assembleia a construção de uma academia onde há um salão de festas pouco usado. Porém os moradores de dois apartamentos eram mais velhos e contrários à ideia. Os mais novos se ofereceram para ratear o valor, para que os mais velhos não pagassem nada pela mudança do ambiente, mas mesmo assim eles não aceitaram. Os jovens ficaram sem academia.

Parque ou jardim
Um condomínio com mais de 30 anos, na Lapa, está recebendo muitas famílias jovens, com crianças. Uma das áreas comuns do prédio, que antes era um jardim, foi reformada, e os moradores precisam decidir o que fazer com ela. As famílias mais jovens querem um novo parquinho, porque consideram o atual de difícil acesso. Já os moradores antigos desejam um jardim com área para leitura. Houve uma tentativa de decidir o impasse em assembleia, mas não havia quorum para que o tema fosse votado. Enquanto isso, a área fica apenas cimentada, o condomínio, sem jardim, e as crianças, com o parque velho.

Papai deixou
Um adolescente estava com os amigos tomando cerveja no salão de jogos de um prédio no Tatuapé. O síndico, que mantinha boa relação com o garoto, percebeu o que estava acontecendo e mandou parar. O garoto respondeu que seus pais o deixavam tomar cerveja. O síndico ligou para os pais, que confirmaram a afirmação do filho. Não satisfeito com a resposta, o administrador disse que o garoto não poderia fazer isso na área comum e que, se o menino não saísse do salão, chamaria o conselho tutelar. O garoto não gostou da atitude, mas hoje, uma década depois, é amigo do síndico.

Fonte: CondomínioSC

If you enjoyed this article, please consider sharing it!
Icon Icon Icon

Related Posts